terça-feira, junho 28, 2005

- Alô? - ou "olhos".
- Oi.
- Sobre o que a gente tava falando mesmo?
- Sobre o fato de você ter me trocado por uma cara de 16 anos, ou algo assim. Quem era?
- Nada. Era a vizinha, veio devolver umas coisas. - Acaricia a mão dele, que começa a beijar sua nuca, enquanto ela tenta, com dificuldade, manter o tom normal da conversa. - Ele não tem 16, ele é só uns dois anos mais novo do que você. Algo como... 22.

Ele pára subitamente, finge irritar-se e senta no sofá, de frente pra ela. Ela sorri receosa.

- Tanto faz. Ele é um idiota. E é mais idiota ainda por estar com você. Você já parou pra pensar se ele vai... Quer dizer, tanto quanto eu... - Suspira.
- Não. Até agora só tive tempo pra pensar no que ele não vai. - Olha pra ele, com olhar vago. Ele olha sério. - Ele não vai me cansar. Ele não vai viajar quando eu mais precisar dele. Ele não vai querer que eu seja outra pessoa, ou que eu seja uma pessoa só. Ele não vai me machucar mesmo sem querer porque talvez, só talvez, ele esteja de fato pensando em fazê-lo. Ele não vai voltar atrás depois.
- Ele é um idiota, e você está querendo ser... como ele.
- Eu sei a que você se refere.
- Ele é tudo aquilo que você sempre condenou e você não pode amar ele porque...
- Eu não quero. Soa justo pra você? - Ele abraça uma almofada, bobo. Nunca vira uma mulher mais velha e mais inteligente falar dele assim.
- ...talvez soe. Mas isso eu posso admitir menos ainda; que você me troque por alguém que nunca vai amar, um cara que é grande e idiota e não sabe quem é o Thom Yorke.
- Se eu escrevesse um conto com essa frase, colocaria risos depois, mas agora... você sabe. Poderia me fazer chorar. E é óbvio que você não entende que é disso que eu preciso agora. Da "paz" que só isso pode trazer e porra, como eu odeio a palavra "paz".
- Eu sei disso. E você odeia a palavra "prosperidade" e odeia 'energias' e odeia qualquer pessoa que acredite em alguma coisa. Daí você sai de perto de mim, que sou a pessoa mais cética que você conhece e corre pros braços de .. bom, dele! um amontoado de músculos e fé de 16 anos de idade sem um pingo de cabeça...
- ... e que nunca, nunca, vai acreditar em "nós".

Ela desliga. Chora. Acende um cigarro.
- Você pode ir embora agora e nunca mais voltar.

segunda-feira, junho 27, 2005

Eu fiz uma música que se chama

"eu estou apaixonada por outra pessoa que fala que vai querer ir pra cama comigo mesmo quando formos velhinhos".

terça-feira, junho 14, 2005

Bem durável.

Hoje eu comprei uma agenda de telefones e o primeiro número que anotei foi o seu.

quarta-feira, junho 08, 2005

The Employment Pages.

Gritou. Alto pra caralho, talvez porque fosse a única possibilidade restante. Gritou alto pra caralho como se ele fosse ouvir. Mas ou ele era surdo, ou eram exatos quatrocentos e cinqüenta e sete quilômetros separando eles.

Ela preferia acreditar na segunda alternativa.

Preferia acreditar que alguma posição seria suficientemente boa pra agüentar cinco horas num banco de ônibus convencional, com desconhecidos encostando levemente no seu ombro. E odiava o 'levemente', acima de tudo.

Ela preferia acreditar na possibilidade de não fazer nada daquilo. De deitar e não levantar mais. De deixar o tempo passar e tudo se resolver sozinho e não precisar trabalhar e nem precisar ser trabalhoso.

Queria dormir e não ter que se explicar. Queria chorar e não ter que dizer o porquê. Queria ser consolada sem precisar revelar o motivo.

Ela gritou. Eu sei disso porque minhas cordas vocais tremeram.