quinta-feira, dezembro 13, 2007

Elevadores

19.

Estou pensando no quanto falta. Arquiteto os planos mais friamente fantasiosos que alguém poderia arquitetar. Vai ver é assim. Pra algumas pessoas dá certo e não deve ter sido sem querer. Penso nos esforços, todos eles, juntos, é-isso-aí, vamos-lá-pessoal!

Esse resto de fome, e essa glicose no sangue, deve ser isso. Deve ser o calor, o sangue subindo à cabeça, a caminhada no meio do povão antes do 19º andar.

Deve ser o tempo que eu passo procurando minha chave entre as barras de cereais, os óculos, o celular, as contas, e todas aquelas coisas que eu não sei por que diabos estão na minha bolsa.

Os três litros da água, talvez.

Não me incomodo. Vou arquitetando, andar por andar, com a inexatidão que faria desmoronar todos nós. Toda aquela gente sem nome que divide os quatro metros... quadrados. Eu os penso sinuosos. Eu penso que pelo menos meu andar é ímpar e toda aquela gente sem nome em seus escritórios chatos de advocacia e arquitetura e comércio exterior. Eu penso que finalmente criei a minha própria roda. E ela é bem mais redonda do que a engrenagem que faz subir os 19 andares do elevador.

19.