quinta-feira, dezembro 12, 2013

O mínimo de lembranças

Acontece que um texto genial, desses de dar uma formigadinha no céu da boca, não tem muito a ver com referências, com a vida que a gente leva, com o dobrar dos sinos, com os discos dos smiths que eu não tenho, com os melhores shows, com como eu olho pra você dormindo na minha cama e me sinto a pessoa mais sortuda do mundo.

terça-feira, dezembro 03, 2013

O mundo é dos fortes mas acho que nunca conheci nenhum. Inclusive acho que isso pode significar que eu não tenho direito nenhum sobre o mundo. Deve haver alguma lei, escrita em alguma placa em algum lugar dizendo que eu perdi toda minha propriedade - e o direito a uma parcela do mundo - quando chorei aos 17 anos por deixar um copo cair no chão.


quarta-feira, setembro 18, 2013

Não pode falar isso.

- Primeiro que você não vê. Segundo, que você é um babaca e terceiro que você é um babaca.

sábado, junho 08, 2013

Em vez daquilo tudo

Foi recolhendo as taças sujas de vinho numa manhã de inverno que eu me dei conta que talvez gostasse muito mais da minha cidade quando eu pensava nela pelos seus olhos.

Talvez eu gostasse mais da minha vida quando eu pensava em como você a veria. Aquele meu prédio preferido. Apontaria os detalhes, as paredes cobertas de folhas, você sorriria com os olhos.

Pensei em caminhar devagar no contra-fluxo das pessoas saindo apressadas dos seus trabalhos. Pararíamos no meio da calçada atrapalhando a coisa toda, vendo as linhas da arquitetura se juntando com umas histórias bobas, você precisa provar essa pizza, esse lugar me lembra tanto você, olha ali a fila do pão, o marco zero, sim é mesmo tudo meio limpo.

Quem sabe fosse a ideia de que com você ao lado tudo pararia ou quem sabe era mesmo uma bela de uma vida mas que perdia um pouco da beleza quando você não percebia nada disso.

Eu recolho as taças sujas de vinho com a certeza de que você nunca perceberá, lavo devagar, há muita coisa ainda pra se beber.

domingo, maio 19, 2013

25 coisas que você deveria saber sobre o amor

Às vezes a gente pensa em algumas coisas muito mais do que gostaria. Eu penso muito naquela vez que acordei mais cedo e você, mesmo dormindo, tentou me segurar pra que eu não saísse do seu abraço. Embora a gente não tenha nada, nunca tenha tido nada, ou quem sabe tenhamos algo com outras pessoas, você tentou me segurar, isso partiu meu coração porque, bom, não temos nada.

Penso mais do que gostaria em acordar ao seu lado, tua cara amassada, a falta de humor, a preguiça de fazer café, você me abraça até meio dia, até daqui 1h37min, até a hora de pegar o avião, quando acabar isso, esse momento, quando tudo voltar a ser coisíssima nenhuma misturada com ansiedade - penso bem mais do que gostaria.

Mas nem o beijo na nuca, nem o fato de tua mão não ser quente como deveria, nem toda a expectativa frustrada e nem a recomendação da terapeuta, nada disso me faria pensar menos. Porque você é dessas coisas que são muito mais do que eu gostaria. Ou apenas exatamente isso.

terça-feira, abril 02, 2013

essa é uma das coisas que passam, todas elas são, a gente escolhe vivê-las até que não queira mais.

Me escolheu como quem escolhe a jóia mais cara e rara em uma vitrine cheia de coisas impagáveis e inalcançáveis, embora eu fosse a versão mais bruta da coisa toda, ou: justamente por isso.

Encheu as manhãs de citações, e os cafés de promessas para ninguém, os bolsos de canetas que arrancava da minha mão. Deitou minhas costas nuas no lençol só pra dizer 'Olha que estranho' e não me beijar, não me ter, coisíssima nenhuma, só pra sentir na pele - e bem de perto - como era viver o maior dos clichês.

Achou que as referências e as histórias fossem um quê de maior que a vida, quando na verdade quase todo clichê é triste. Eu disse "e se..." umas mil vezes. Ele, nem isso.

Apagou o cigarro bem na hora em que se deu conta:

quarta-feira, março 20, 2013

LOST IN THE LIGHT


Um dia você me disse que as coisas são só o nome que a gente dá para elas. E, estranhamente, foi nesse dia que eu decidi começar a usar o nome paixão pra toda vez que você completava uma frase minha ou botava a mão nas minhas costas quando a gente caminhava pra algum lugar.

Foi quando a gente começou a dar nomes pras coisas que o que tínhamos deixou de ser suficiente pra ser algo com nome difícil e complicado e distante daquele primeiro sorriso que me prendeu.

Quando usamos, em nós mesmos, toda nossa habilidade com as letras e as palavras e as definições, aquela beleza e a liberdade que me bastavam pra te ter por perto se perderam nas entrelinhas.

Enchemos tudo de nomes e palavras que começaram cantadas feito uma música do Chico Buarque ou garranchos alcoolizados em guardanapos - e terminaram resmungadas como um ditado em alguma caixa postal eletrônica que nunca é ouvida.

Um dia você me disse que as coisas são só o nome que a gente dá pra elas. E completou, bem baixinho, pra me consolar: nada disso está realmente acontecendo.

domingo, fevereiro 17, 2013

The closest we will ever be

Tinha mil coisas pra escrever mas especificamente naquele dia eu fiquei sem papel. Fiquei tentando memorizar, enquanto via as luzes passando bem lentas, bem bobas, tudo que eu queria estar rabiscando.

Começaria com um abraço infindável, um sorriso estranhamente familiar, você chorando e eu te abraçando sem nunca querer soltar. Eu falaria da tua cara irresistível de desapontamento. Nós riríamos juntos e choraríamos sem parar.

Se eu tivesse uma folha de papel - e soubesse desenhar - eu desenharia o quanto eu me sentia confortável em me mexer perto de você. Só isso e tudo isso ao mesmo tempo. O quanto eu poderia parar aquele segundo e como ele parecia insustentavelmente leve - embora completamente sem sentido.

E como seriam só rabiscos, não precisaria fazer sentido algum mesmo. Embaixo, no cantinho direito da folha - se eu a tivesse - talvez resumisse em 3 palavras a sensação de querer te mostrar tanta coisa incrível mas que não significa nada para você.

Se eu tivesse uma caneta, desenharia na minha mão aquele seu sorriso bem específico de quem entende muito bem quem eu sou e sente esse misto de orgulho e paixão e acaba sem saber o que pensar.

Se eu tivesse algum bom senso em vez de papel e de caneta, talvez não fizesse nada disso. E não me surpreendesse ao encontrar os meus sorrisos normalmente tão tímidos gritando aos quatro ventos no lugar mais inesperado.

segunda-feira, janeiro 28, 2013

161 dias


Achei que você já tivesse esquecido, achei que eu já teria esquecido.
Mas eu contei e foram 161 dias e daquela sensação estranha de não se conhecer – mas querer muito – não mudou muita coisa.
Numa das 161 vezes em que eu acordei, eu fiz minha primeira tatuagem. Depois de velha. Remobiliei minha casa depois da minha primeira separação. Me apaixonei uma, duas, três vezes. Me desapaixonei umas 5.
Descobri que sei fazer muito mais do que me julgava capaz, profissionalmente. Não aprendi a esperar 24h pra responder os teus e-mails.
Ouvi aquela música do Grizzly Bear umas 39 vezes. E deixei de ouvir um pouco a minha música preferida.
Deixei de confiar em alguns amigos; que deixaram de ser amigos. Deixei de confiar em mim mesma. Comecei a fazer terapia, troquei de terapeuta, aumentei a franquia do meu plano de celular em duas vezes, mas não comprei um aparelho melhor. Aumentei a velocidade da minha internet. Deixei minhas contas em dia. Juntei dinheiro. Mas não paguei aquele IPTU de 2010.
Devo ter chorado uns 3 litros, que devem ser os exatos 3 kg que perdi e ganhei de novo. Comprei o short mais curto que já tive, a saia mais curta que já tive, comecei a usar mais batom vermelho. E a atrair garotos de 24 anos.
Parei pra pensar o que queria da vida. Mudei de planos umas 27 vezes. Tive medo e achei melhor parar de pensar. Decidi, tive certeza absoluta, e depois mudei de ideia. Sorri bem mais. Me permiti quase o suficiente.
Ganhei uma bicicleta, flores, passagens, e percebi que nada disso importava.
Errei, errei feio, algumas vezes. Paguei por alguns desses erros. Fiz 28 anos. Voei mais de avião do que gostaria. Vi o Jarvis Cocker de pertinho cantando e dançando.
Pensei em te escrever 161 vezes.