quinta-feira, setembro 11, 2014

dreißig

Eu moro no décimo andar, em uma cidade da qual sempre gostei mas na qual eu nunca quis morar. Faço trinta anos. Um tempão. Em meio a um milhão de mudanças dessas que a gente faz só pra se provar vivo. Estou viva agora. E feliz. Estou viva e feliz, agora. No meio da vida e da felicidade, tem esse monte de detalhe: as contas que às vezes não fecham, a facilidade apaixonante de algumas coisas e a dificuldade desafiadora de outras, a umidade relativa do ar, o que eu tenho nos meus poros. Mas esse monte de detalhe hoje, viva e feliz, parece fechar redondamente. Parece que depois de muito tempo, embora eu nunca tivesse percebido, eu finalmente posso responder: "sim". Digo "sim" quando me perguntam se tá tudo bem, se estou feliz, se topo sair antes do trabalho pra tomar uma cerveja, se quero isso agora: sim, sim, sim. Vejo do décimo andar, vejo lá de baixo, bem perto do chão, todo esse mundo que se espalha pelas ruas de uma vida quase nova. Recauchutada. E me vejo brega dizendo sim pra cada detalhe que constrói tudo que tenho agora; viva e feliz, agora.

quarta-feira, setembro 03, 2014

Física

Nesse momento eu me dei conta que possivelmente eu saiba o exato espaço que o seu corpo ocupa no mundo. E quase me irrito com o ar que fica no lugar de onde você deveria estar agora. Delimito um espaço mentalmente: na minha cama, naquele colchão de solteiro, dentro de mim, no beijo que você me dá chegando sempre pelo meu lado direito, em alguma sacada molhada de garoa onde a gente senta pra ver o tempo passar. Marco cada partícula que ocupa um espaço que eu reservei pra ter o teu cheiro e a tua capacidade de me fazer sorrir. Odeio todas as leis da física, algumas geografias e a ironia que é o fato de eu só conseguir pensar no agora.