segunda-feira, abril 10, 2006

"Abriu a porta e deixou ele entrar,
como imaginara num conto que lera um dia.

- Eu adoro esse tempo verbal.
- O quê?
- Nada. O que você tá fazendo aqui?
- Vim conversar.
- Sobre o quê?
- Faz diferença?
- Não.

Não fazia. E ela sabia muito bem. Começou a contar nos dedos, introspectiva, as diferentes 'conversas'. Riu alto ao lembrar de uma delas, quando ele ligou pra ela...

- ...da frente da minha casa dizendo que ía embora pra sempre.
- O quê?
- Não faz diferença.
- Você tá...?!
- Vamos conversar. Não importa sobre o quê, certo? Não é o que importa.
- Você está estranha. Aconteceu algo? Eu só queria...
- Conversar?
- É.
- Então fala.
- Eu não sei. Talvez eu devesse ir embora.

Claro. Era assim. Valia o esforço de parecer grande coisa. Mas não valia tanto esforço a ponto de ser grande coisa. Ela riu porque entendia disso. Riu, cansada, porque desde os 16 anos nada mudou. Riu porque não via mais sentido em continuar com isso, até quando... Até quando. Riu pra não chorar e achou isso tão desesperador que chorou.

- Ei...

Ele a abraçou.

- Eu quero te fazer bem. Quero conversar. Você...

Não fazia diferença.

- E como acaba?
- Ela levanta o rosto, molhado de lágrimas, pra ele.
- E ele?
- Mente. Eu não sei. Eu não lembro.
- E sobre o que ele queria conversar? Eu não entendi.

Sobre o conto que ela acabara de escrever."

(eu já postei isso?
é que eu tava procurando um roteiro e...)

Nenhum comentário: