segunda-feira, janeiro 06, 2014

Roubaria um título do Proust

Foi quando ele me beijou pela última vez discretamente no canto da boca que eu desisti simplesmente por não saber como agir.

E fiquei feliz porque podia, finalmente, sentir algo com sinceridade. Tirar o pó dos discos tristes, ser consolada da forma mais imoral possível, dizer que não deu certo sem ter que me explicar e sem ouvir alguém dizer que eu estava interpretando as coisas do jeito errado. Como se a interpretação fosse o que importasse.

Quando eu disse "não estamos mais juntos" e o primeiro olhar de piedade se lançou sobre mim, sem espaço pra uma segunda opinião, sem discussões e argumentos, só o não e o vazio e o "sentir muito", algo dentro de mim reacendeu. Flutuei em meio a olhares de compaixão e "não foi dessa vez" e uns sussurrados e segredosos "coitada, quase trinta". Me senti respirando fundo, acordando do coma, saindo da água. Me senti desistindo do fantasma que eu nunca quis abraçar. Me senti aprendendo que algumas pessoas são uma fuga. Pra si mesmas e pra tudo ao seu redor.