segunda-feira, julho 07, 2014

O medo maior era aquele momento entre o avião pegar a velocidade necessária para decolar e levantar as rodas da frente. A partir daí, tudo parecia resolvido. Mais dez segundos e se levantam as rodas de trás, as asas flutuam suaves e a nave vai se perdendo no infinito do céu à noite, as luzes das casas diminuindo lá embaixo, delimitando claramente o palco dos últimos dias.

Talvez, naquele momento, ela se sentisse assim. E talvez fosse o momento mais difícil, de maior medo, o mais determinante. Quem sabe tudo já estivesse correndo na velocidade certa, mas sempre há um instante muito específico de apertar o pedal; quando tudo se resolve e os próximos passos são determinados: é desse instante que depende o sucesso ou o fracasso de alçar voo, de seguir adiante, de deixar pra trás um cenário e navegar um pouco no escuro até enxergar o próximo.

Ela abriu seu caderno de anotações quando as rodas de trás do avião deixaram de tocar a pista e anotou numa folha em branco: ESSE INSTANTE É AGORA. A letra saiu torta.