quinta-feira, março 08, 2007

Estrangeira



Eu me lembro que ouvia como uma pessoa normal, sentia como uma pessoa normal e vivia como uma pessoa normal. Um dia, não lembro muito quando tampouco como, eu percebi. Não entendia mais a minha própria língua. Não entendia o que diziam as pessoas ao meu redor, não entendia o que estava escrito nas placas, nos letreiros, nas linhas e nas entrelinhas. Eu parei de entender.
Ouvia os sons indecifráveis e observa os rostos, cheios de mágoa e medo e insegurança e pena e por vezes cheios de algo tão indecifrável quanto aquilo que eu ouvia. Só o ser humano poderia sentir algo assim, uma curiosidade cheia de desejo pra qual não existe palavra. Foi o que eu vi, e nunca conseguiria explicar.
Andava pelas ruas ouvindo o murmúrio silencioso do que não pode ser entendido. Descobri novos rostos, novas expressões, novos sorrisos, novas coisas. Descobri o tempo exato que tudo dura.
Viajei o mundo buscando um lugar onde eu entendesse o que falavam. Não encontrei.
Um dia, aí, não lembro quando tampouco como, eu consegui ouvir o silêncio. É o barulho que faz quando...



4 comentários:

Anônimo disse...

poisé
o silêncio...

Anônimo disse...

Essa perda do entendimento original é o que a metáfora de comer a fruta da árvore do conhecimento do bem e do mau representa. É nessas horas que a gente vê a importância da lábia da serpente... sem a idéia dela ainda estaríamos puros de mais pra desejar qualquer coisa. Hum... soou muito católico? Não era pra soar, não sigo essa religião, mas essa imagem é boa.
Legal o seu blog :)

Anônimo disse...

Como você está? Se precisar de alguma coisa me liga (99449677) Beijos Ciça

temporário disse...

a ciça é sempre anonima
ahahahahahhahah