segunda-feira, abril 26, 2010

Pés no chão

Nunca fui objetiva, me acostumei com as entrelinhas. Elas sempre costumaram me aliviar de qualquer coisa, sem que eu precisasse me justificar pra alguém, sem responder perguntas, do jeito que aprendi desde pequena: minding my own business.

Ainda não desisti da subjetividade, e voltarei a ela na próxima oportunidade. Mas só por essa noite pensei em dizer de outro jeito.

Comentei há alguns dias com uma amiga que ultimamente me sinto em um consultório de psicólogo quase o tempo todo. Não só pela verborragia sem fim. Mas por pensar, falar, concluir, confundir, presumir.

Acho que estamos tão cansados, que talvez isso tenha nos restado entre o medo de um próximo passo e a inércia.

A gente fala sobre os nomes, a troca de olhares, o passado que esqueceu, o que ainda atormenta, falamos sobre as bebidas, os livros, as canções e toda nossa genialidade. O difícil mesmo é ir além disso. Difícil é vencer todas as memórias e conselhos que esterilizam os abraços e os beijos e garantem o pé que sempre está lá atrás porque, você sabe, pode acontecer tudo de novo.

Conversamos e sacamos tanto tudo isso que agora eu penso bem e concluo, mais uma vez, ser melhor recuar. Mas quando foi, mesmo, que era pra pensar a respeito?

E quando é que, pensando, alguém vai escolher entrar nessa? Quem vai optar por passar a noite em uma pista cheia de luzes nervosas e adolescentes presunçosos pra no final ter quem abrace e pergunte: ‘o que você quer fazer agora?’ Quem será insano a ponto de citar de novo todas aquelas bandas, gravar um disco, convencer a menina de que ela é a garota mais linda daquele lugar? Quem vai conhecer família, esquecer quem é, dormir fora de casa e ter somente uma escova de dentes em outro bairro da cidade? Quem vai deixar que alguém conheça cada milímetro seu pra depois decidir mudar de cidade, estado, país?

Paro e penso: eu não.

Mas quem vai fazer o trabalho sujo, abrir mão de tudo que aprendeu e conquistou, ouvir mil vezes a mesma música, falar em alto e bom som, abrir o peito e deixar o golpe entrar? Quem é que tá afim de mostrar alguma vulnerabilidade em troca de uma companhia que faça sorrir uma vez por semana?

Duvido que você o faça.

Duvido que alguém com o mínimo de sanidade o faça.

4 comentários:

jeffrey disse...

uma hora a sanidade se vai e a gente acaba caindo nessa. outra vez.

hahaerasdfghnds disse...

ainda acho que quanto mais diretos somos, menos nos entendem.

mas no final, os lugares são sempre os mesmos, os motivos são sempre os mesmos, as dores são sempre as mesmas, e a próxima relação, em muita coisa, será a mesma. no máximo mudam-se os personagens e as locações.

shana disse...

força maria de fátima! desculpe, isso me lembrou o título daquela novela vale tudo...
A gente que parar de ser tão medrosa e simplesmente viver, de forma leve, o esforço é que é o errado. Até o esforço de pensar...

Anônimo disse...

mas o quando o sentimento vem forte não existe medo ou razão que o impeça de entrar, infelizmente ou felizmente é inevitável...
como já dizia o mestre budha, viver é sofrer.