domingo, março 16, 2003

CONTO ERÓTIGO-BREGA
(Michele Goo)

Era uma dessas mulheres que não se contentam com pouca atenção. Precisava que todos notassem sua presença e a apreciassem. E era o que realmente acontecia. Muito alta, grandes seios, olhos azuis, pele branquíssima e cabelos pretos, bem pretos. Apesar de todo o assédio, só tinha olhos para um homem. Apaixonou-se perdidamente na primeira vez que o viu. Com o tempo e muitas tentativas de sedução, acabou conquistando-o. Porém o moço não tinha tanto interesse e passado um mês passou a ignorá-la por completo.

- Naquela noite eu estava no limite da minha sanidade. Se ele não queria nada comigo, por que não disse? Já estava enlouquecida com tanta indiferença. Logo eu que sempre tive vários isqueiros para acender o meu cigarro. Que cafona isso que eu acabei de falar, né? Mas eu adoro clichês: rosas vermelhas, saxofone, luvas até os cotovelos... Mas não vem ao caso agora. Cheguei na casa dele usando um longo vestido vermelho e com uma garrafa de champanhe, a melhor que havia na lojinha de produtos importados da esquina da minha casa. Ele me olhou surpreso. Acho que gostou da idéia. Você também não gostaria que eu batesse na sua porta dessa forma? Pois é, era a cartada final. Me convidou para entrar. Coloquei uma música sensual para tocar. Sem dizer uma palavra o empurrei até o sofá e comecei a tirar minha roupa enquanto dançava na sua frente, de acordo com o ritmo da música. Peça por peça... Devagar, bem devagar.
Tremia enquanto narrava. Fechava os olhos como se buscasse as imagens mentalmente. Sussurrava, chorava, mordia o lábio. Pediu que o entrevistador acendesse seu cigarro, quando este queria mesmo era arrancar suas roupas a dentadas. Ficou um tempo fumando sem falar nada, tentando lembrar exatamente do que aconteceu. Dos detalhes. O entrevistador lutava contra sua excitação e ficou tranqüilo por não ter que gravar a conversa mentalmente. Bendito inventor do gravador...

- Obrigada. Nunca tenho fogo. Há sempre alguém que acenda para mim...hehe. Então, vi que ele estava excitado, muito excitado. Eu podia ver o pau dele tentar atravessar a calça de abrigo que ele costuma usar para dormir. Ah... Eu adoro calças de abrigo... Eu usava um espartilho com cinta-liga. Pretos. Era a cor preferida dele. Ajoelhei-me no sofá deixando as suas pernas entre as minhas, mas sem encostar meu corpo em seu corpo. Abri a garrafa de champanhe. Servi na boca dele e logo depois derramei sobre os meus seios para que ele chupasse. Ele chupou forte. Como nunca tinha chupado antes. Subiu as mãos pelas minhas pernas, pôs a calcinha para o lado e enfiou os dedos com força. Gritei. Mas não de dor. Continuava chupando meus seios molhados enquanto me masturbava. Beijei-o. Todo. Chupei, mordi, arranhei. Arrancamos o que sobrara das roupas com uma selvageria impressionante. Sentei em cima do pau duro dele. Nunca me pareceu tão grande, tão forte, tão violento. Eu gemia e gritava. Sussurrava em seu ouvido. Ele me chamava de puta, de cadela, puxava meus cabelos e eu adorava. Achei que ia explodir no que foi o maior orgasmo da minha vida.
A esta altura o entrevistador mal podia conter o volume das calças, e tentava, pelo menos, controlar a respiração que se tornara excessivamente ofegante. Não conseguia tirar seus olhos dos da mulher que entrevistava. Ela percebia tudo isso mas fingia não notar. Gostava de provocar. Era tudo o que lhe restava. Despertar interesse sexual nos homens. Mas sabia que não fazia sentido. Nada mais fazia sentido na sua vida. Então por que não se divertir um pouco? Sabia que o homem que sofria, ali na sua frente, não poderia tocá-la. Isso só tornava o jogo mais divertido.

- Abracei-o e suspirei aliviada. Achei que tinha salvo nossa relação. Então ele levantou, foi para o quarto e, sem dizer nada, dormiu. Simplesmente não acreditei. Depois do sexo maravilhoso que fizemos. Sentei no sofá e comecei a chorar compulsivamente. Nunca fui tão humilhada, tão desprezada. Que filho da puta! Fui até a cozinha tomar um copo de água e vi aquela faca. Veja bem, nunca tive pensamentos assassinos ou algo assim. Mas a faca me chamava. Não sei, parecia tão atraente. A lâmina fria e brilhante capaz de acabar com uma vida. Peguei a faca. Passei ela por todo o meu corpo. Lambi. Brinquei com o cabo. Fui até o quarto, passei a faca levemente pelo peito dele. Depois deixei-a apontando para o centro do peito. Então ele acordou e com o susto acabei cravando a faca. Ai meu Deus... Me arrepio toda só de lembrar. Tirei a faca e cravei-a de novo. Nem conseguia ouvir direito os seus gritos. Senti o sangue espirrar no meu rosto. Continuei tirando e botando a faca num movimento quase sexual. É assustador, mas na hora senti um estranho prazer. Achei até que fosse gozar de novo. Por pouco não gozei... Quando me dei conta já estava banhada em sangue com o homem que eu tanto amei. Morto ali na minha frente. Deitei ao seu lado e chorei pedindo desculpas baixinho. Eu só queria um pouco de amor!!!! Você entende, não entende?? Responde!!!
Ela segurava o pobre repórter pela gola e sacudia-o pedindo pela resposta. Ele chorava e esperava que o guarda viesse logo livrá-lo da mulher que, por pouco, não acaba com a sua saúde mental. Tão bonita, tão jovem. Como algo tão trágico pôde acontecer com uma criatura tão linda, pensava. Achava que podia tê-la amado. O guarda abriu a pequena sala rapidamente e correu para socorrer o jornalista. Ele limpou as lágrimas, ajeitou a gola da camisa e saiu rapidamente. Que história ele tinha. Mas ainda morria de inveja do homem que morrera com 37 facadas no peito...


(Este conto foi originalmente publicado pela própria Michele Goo, em 1999, num certo site de contos do qual eu participava. E ainda hoje eu o considero uma verdadeira obra prima. Agora, compartilho com vcs.)

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