quinta-feira, julho 18, 2002

Jupiter

Jupiter veio e me arrancou um beijo. Convencionou um beijo. Um beijo na boca linda nos olhos castanhos no sorriso ingênuo. Jupiter. Jupiter Azul que jamais pertenceu a ninguém. E nem poderia. Porque é todo só ar, ar lindo que preenche os pulmões; que me beija de mentirinha, por dentro.
Jupiter, que do jeito certo, me deu algo pra eu guardar só pra mim. Azul, cantando no meu ouvido enquanto eu dormia. Me fazendo parecer tola. Me fazendo ser tola. Me chamando de tola. Tola. Tolo Jupiter Azul que faz tudo sem querer. E que me assusta, quando mostra que podia fazer mais.
Jupiter, silenciosamente, vem passeando pelo ar, vem voando sua essência, vem me envolvendo quando faz frio. E Jupiter dorme. E quando convêm, acredita em mim. Dorme de lado, apoiado nas próprias mãos. Acorda assustado. Tem o corpo poeticamente gelado, ainda que pudesse me esquentar em meio ao frio mais violento.
Tem o rosto bonito. Jupiter tem rosto. E é bonito. De uma delicadeza quase cega. Bonito. E ironicamente, Jupiter está sempre sentindo dor. Sua fragilidade não poderia ser traduzida em palavras. Seria algo calmo e lindo. Calmo e lindo a ponto de ninguém entender. A ponto de qualquer um, que não soubesse, querer tirar Jupiter de sua redoma azul. E qualquer um quebraria a redoma em mil pedaços. Quebraria, junto com ela, o pequeno coração de Jupiter. E vê-lo assim, de novo, seria agonizante. Seria um azul que grita silenciosamente. A delicadeza de Jupiter vai além do entendimento. Está perdida, em algum lugar, no azul de sua redoma, no piscar de seus olhos silenciosos. Ou naquela nossa tarde, que se esqueceu de existir.
Jupiter, Azul. Não esqueça de existir.

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