quinta-feira, julho 18, 2002

Veneza

Minha mãe tem fotos de Veneza. Fotos de Veneza para as quais alguém posa. Posa como quem está em Veneza. Naquele ar que parece sempre de outubro.
E nessas horas eu penso em fugir. Penso em pegar "tudo que tenho", roubar um discman e viajar pra Madrid ouvindo Plastic Soda. E cantar alto nas ruas bonitas de Madrid no outono. E conhecer alguém que também pegou tudo o que tinha, roubou um discman e viajou pra Madrid ouvindo Plastic Soda. E falar mal de Portugal. Pegar um avião pra Zurique e comer chocolate até não poder mais. Visitar minha vó quando o dinheiro acabasse. E morar pra sempre lá, com o alguém que conheci em Madrid. Morar naquele vilarejo de ruas estreitas, perto daquele rio lindo, e caminhar à beira dele todo dia de manhã. Tomar Café Vienense que lá tem outro nome naquele café totalmente undergound. Conhecer todos os habitantes da cidade. Ajudar na colheita de uvas. De vez em quando, pegar um trem até a outra cidade e comprar coisas legais. Tirar fotos sempre dos mesmos lugares. E comer naquela pizzaria que coloca as mesas no meio da rua. E "começar um negócio". Começar qualquer coisa, nutrida pela ilusória possibilidade de conseguir viver. Voltar pro Vilarejo de vez em quando. Ouvir as fofocas da minha vó sobre as vizinhas. E tomar uma cerveja com ela, enquanto isso. Ir naquela sorveteria que é absurdamente boa. Visitar as cavernas de Estalagtites. Comprar pulseiras pra minha priminha. E contar coisas bonitas do Brasil pra ela.
Sorrir quando nevar no Natal. Assistir à copa e beber. Ir à clubes para tomar banho de piscina. E ficar deitado na grama lendo um livro importado da Fernanda Young.
E cansar disso tudo, inevitavelmente. Pegar tudo que temos, roubar dois discmans e fugir pro Bangladesh, ouvindo Plastic Soda.

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