domingo, novembro 17, 2002

Diferente.

Na mesa ao lado do monitor e do teclado, estão as fotos. Coloquei um monte de coisa em cima pra esquecer. Pra não pensar. Pra não ter certeza de que ele é lindo e tem alguém. Pra não me dar nem uma chance mínima de gostar. Não, não, não... Mas passa fácil. É algo fácil de controlar. É 'nada'... É falta de ter alguém, só isso.
E tem Ele que é de quem eu gosto mais. Mas é tudo enrolado e complicado demais. E eu ensaio mil vezes dizer "tudo ou nada" mas simplesmente não consigo. Não tenho essa coragem de pedir tão descaradamente que Ele me abandone de vez. E nem sei se é o que eu queria. Não sei se basta pra mim essa atenção mínima e dissimulada e parcial. Às vezes eu queria dizer pra Ele que tudo que eu quero Dele é carinho. Que não é tão difícil assim. Que o fato de Ele ser complicado assim me machuca. Que eu já passei por isso antes e não quero e não posso. E basta alguém que me abrace e que queira estar comigo. Que bastaria que Ele fosse assim.
Mas isso eu nunca consigo dizer. Sou uma fraca.
Lá fora tem gente gritando. Deve ser por causa do futebol. Eu deveria, mas não como. E continuo doente. E li umas coisas e tive raiva porque as pessoas são e não são sempre as mesmas. Não sei nem como eu queria que funcionasse. Mas não assim.
Me pergunto se algum dia alguém vai reparar que meus dentes são muito pequenos e vai gostar disso.
Olhando pra esquerda, algumas coisas minhas: meu coelho, na estante, ali em cima, junto com os meus perfumes e meu aparelho de som. Na mesa, um nariz de palhaço (nem me perguntem), uma pomada pra queimaduras, uma conta de telefone, um porta-cds, minha agenda de telefones, um par de brincos em cima da agenda, um dicionário, Pavement - Brighten The Corners, o Hatful of Hollow dentro da caixa do Magical Mystery Tour, embaixo do Galaxie 500 - the portable. Em cima, a caixa do The Smiths - The Queen is Dead. O CD está dentro do aparelho de som. Acho que é um dos três CDs que eu mais gosto. Talvez o melhor. Aliás, de fato o melhor. Ganhei ele.
Do outro lado, minha bolsa no lugar do teclado do meu irmão. Flores em cima do galão de água. Flowers in the Window. Meu chapéu. Meu pato. Uma lupa. Uma lata de gás butano. Duas jaquetas minhas. Meus tênis azuis. Meus tênis vermelhos. Preciso de tênis novos. Vitamina C Efervescente. Vou tomar daqui a pouco.
Há, colado no monitor, um adesivo da Top Melon. Veio num melão que eu comprei. Naquele melão. Em cima do monitor uma caneta que não deve funcionar, um bilhetinho-propaganda de um churrasco, um calendário, uma válvula.
Não há recados novos na secretária. 34. Velhos, deviam ser apagados. Não vejo o telefone daqui. Não sei onde ele está.
Sonhei que me perseguiam. Sonhei que fugi e que foi necessária muita vontade. Durante a fuga, no sonho, eu ainda pensei que era ruim ter cabelos vermelhos. Era mais fácil que eles me vissem assim.
Não estou ouvindo nada. Nenhuma música.
Vou ensaiar de novo pra falar pra Ele que não agüento mais. Talvez Ele até pergunte a respeito de algo que eu disse ontem. Não sei. Mas sei que não vou conseguir e não sei se quero. Mas passa. Não estou mais me lembrando de como é ser eu mesma. Então sou isso: confusa, quieta, calma, bem. Vago. Sou um barulho nervoso de flauta que ninguém sabe de onde vem. Desses que se ouve em tardes cinzas.
Acordei com uma música que eu gosto. Tive medo de que alguém tivesse entrado no quarto.

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