quinta-feira, dezembro 05, 2002

Se abraçavam e eu não sabia onde começava um e onde terminava o outro. E olhei pro lado e ele não podia me abraçar assim. Não ali. E talvez mesmo que fôssemos só nós dois, ele não conseguiria não ser sincero comigo. Não conseguiria fingir tão bem. Então eu dei um beijo no rosto dele, e olhei pra baixo daquele meu jeito. Ele me olhou com olhos cinzas de desculpas. Queria quase tanto quanto eu que fôssemos algo que não éramos. Mas ele era alto.
Conseguiu me segurar a ponto de impedir que eu fosse. Irônico, pois a partida era dele. What you give is what you get, pensei, sempre. Olhei pedindo que ele me soltasse. Ele o fez. Fui pra trás da linha amarela. Era ali que tudo deveria (se) partir. Odiei a camiseta vermelha. Ele pediu que eu esperasse 'um pouco'. Tirou do bolso uma pulseira azul. Minha pulseira azul, que tinha estragado... Arrumada. Extendeu sua mão muito pouco, para que eu tivesse que ir até ele de novo. Fui. Peguei. Tentei. Tentei mais do que já tinha até então. Chorei e abracei-o. Não era justo. Ele disse que nada iria mudar. Eu não acreditei. Eu disse que eu já tinha passado por isso antes. Ele quis chorar. E eu me odiei por mencionar aquela bosta de novo. Por me importar com o (meu) passado. Logo aquele passado. Ele então me abraçou mais forte. Me beijou devagar, bem diferente de normalmente. Ficou sem saber o que sentir, tanto quanto eu. Ficamos estranhos, por sempre termos sido tão 'engraçados'. E eu queria mais que chorar. Queria que quando o abraçasse ele se liquefizesse e entrasse pelos meus poros. Ou que simplesmente desistisse e ficasse ali do meu lado. Ali onde a gente se conheceu. Ali onde a gente viveu e sorriu tanto e se amou sem nunca dizer 'eu te amo' com medo de machucar.
Ali. Sequei minhas lágrimas. Dei um passo pra trás. Eu de azul ele de vermelho. Ele de camiseta eu de moletom. Minha mochila laranjada e aquelas malas verdes. Coloquei a pulseira e tirei o colar dele. Entreguei. Era triste. Era idiota ter que acabar assim. Mas seria melhor, eu tinha dito, sem saber que me arrependeria depois. Queria lembrar dele daquele jeito. Dele lindo. Dele sem que eu encontrasse qualquer defeito. E de como e quando e onde. Não queria esquecer.
"Eu te adoro. Te cuida.".
E fui sem olhar pra trás.

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