quinta-feira, janeiro 24, 2002

Outro: Evasão de Privacidade: "Cultura pop. Literatura. Existencialismo de botequim. Filosofia de playground. Música. Mulheres bonitas para todos."

Eis uma "amostra":
"...Um orgasmo. Um milk-shake. Um amor eterno. Qual a diferença? Talvez o preço. Mas meus amigos estão errados. O amor não é medíocre. Stendhal disse que a arte é uma promessa de felicidade. O amor é a suspensão da mediocridade. O amor ilumina com a força doentia de um sol negro. O amor é a propalada redenção de que a religião é risível expectativa. O açougueiro amoroso corta melhores bifes. O marceneiro constrói melhores móveis. E um assassino assassina por amor com fluidez de baile. Ontem meu filho mais novo perguntou – ‘por que você e mamãe brigam tanto?’. Imaginei responder-lhe que entre dois amantes há distâncias a percorrer. Há ensimesmamentos de aço. Há silêncios cuja cor é esmeralda. Mas não. Disse apenas que não estávamos nos entendendo. Era verdade. Mas não toda a verdade. O que me atraía nela? Seu sorriso desmaiado de tristeza? Sua indefinição? O jeito como repartia o cabelo? As roupas tomadas de emprestado da mãe e que saíam mais largas? Nossas conversas sobre filosofia? Política? Religião? Conversas que me elaboraram uma cumplicidade e um sentido de pertencimento em que minha ânsia aplicou o rótulo – ‘amor’. O que haverá de verdade neste sentimento? Neste corpo frágil que suspira na foto? Esta moça que sorri no vídeo? Que cumprimenta no cartão? O que me une a alguém senão o em que a percebo de mim?..."

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